quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Luzes das embarcações - Fundeado, Desgovernado e encalhado


Inserido no RIEAM, Regulamento Internacional para Evitar Abalroamentos no Mar, está a definição dos sinais sonoros (para condições de visibilidade reduzida) e dos sinais visuais diurnos e nocturnos que as embarcações devem utilizar para sinalizar a sua condição (fundeado, em marcha, encalhado, em faina de pesca, etc.), direcção e intenções.

As luzes e balões é mesmo questão de decorar. Mesmo a relação das luzes com os balões parece às vezes completamente ilógica! Mas acredito que haverá boas razões por trás das escolhas.

Mesmo assim vou tentar dar algumas dicas e formas de associar as luzes a cada situação. Vou aproveitar as "formulas" que me foram ensinadas nas aulas. Algumas são boas ajudas para não nos esquecermos.


Fundeado, Desgovernado e Encalhado


Estas três situações são sinalizadas de dia com um, dois ou três balões esféricos. Por serem sinalizadas só por balões esféricos, será uma boa ideia agrupá-los numa mnemónica. Podemos fazer de duas formas:
  1. ordenamos pela sequencia 1 balão, 2 balões e 3 balões: neste caso decorem "FDE" que corresponde a "123" balões respectivamente.
  2. ordenamos alfabeticamente pelo nome da situação, que fica "DEF": neste caso decorem "231" que corresponde às situações "DEF" respectivamente
Eu por acaso usei o método dois. Pois era mais fácil para mim decorar o "231" e manter a simplicidade das letras (correspondem à tecla 3 do telemóvel). Neste sistema, decorem que começamos pelo fim: 1 balão para o fim "Fundeado" :) , e depois voltamos ao inicio para 2 e 3 balões, respectivamente.

As luzes destas situações são:
Fundeado = 1 balão = luzes brancas de mastro visíveis em 360º (1 ou 2 para >50m)
Desgovernado = 2 balões = 2 luzes vermelhas visíveis em 360º + luzes bordo
Encalhado = 3 balões = 2 luzes vermelhas (não é um erro, são mesmo só duas luzes vermelhas) visiveis em 360º + luzes brancas (de fundeado) 


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Para referência na embarcação, encontrei um site que vende um poster que pode ser encomendado em diversos tamanhos e suportes (papel, cartão, etc.).
Cartaz à venda em zazzle.pt

Boas Aprendizagens,
Pedro Braga

sábado, 22 de outubro de 2011

Pontos notáveis

As cartas de marear têm imensa informação e há muito o que dizer sobre elas!

Eu aqui vou só abordar uma pequeníssima parte da "arte" de navegar usando a carta: os pontos de referência na carta dos objectos notáveis em terra (e em mar).

E porquê abordar este ponto?... porque numa das minhas aulas de Patrão Local, uma pessoa disse que deveria traçar o azimute na carta no ponto mais alto do desenho de um depósito de água, pois é esse ponto do objecto real que ele vê quando está no mar! (como se houvesse equivalência do desenho com a posição do depósito de água - quer dizer, até havia se ele estivesse deitado :P)

Claro que a afirmação que essa pessoa fez está completamente errada. Eu tenho uma divisão perfeitamente clara na minha mente entre dois tipos de informação da carta. Chamemos-lhe (1) informação de "identidade" (inventei agora mesmo :P ) e (2) informação "geográfica".

(1) a informação de identidade eu refiro-me a desenhos que ajudam ao navegador a identificar sem dúvidas o objecto que está a ser retratado (têm aqui um bom catálogo desses símbolos). Estes desenhos podem-se extender na carta ou até ser desviados do ponto geográfico onde o objecto esta por meio de referências ou "setas". O que interessa perceber é que estes "retratos" ou identificadores não têm informação geográfica!!! ok? percebido? É a isto que eu chamo informação para identificar objectos, portanto "identificativa".

(2) a informação geográfica é aquela que define geograficamente a posição do objecto identificado pela informação de "identidade". Normalmente, esta informação será em forma de uma pequena circunferência! Porque normalmente os objectos retratados são tão pequenos à escala que se resumem a um ponto na carta.

O exercicio em causa, na aula, dizia a determinada altura que:
Às 1300 horas obtém uma posição definida por:
Depósito de água da praia da Tocha       Zv = 124º
Este azimute deverá ser traçado na carta usando o ponto na base do depósito da água como referência, como se pode ver na imagem:
Azimute traçado ao depósito de água pelo circulo na base do desenho


No seguinte exemplo vemos três símbolos que ilustram esta separação entre a marcação da posição do objecto ("position is at bottom") e o resto do símbolo que, pela sua forma, nos diz se é uma antena parabólica, um mastro de bandeira, uma chaminé ou outros de entre um rol considerável de símbolos.

Já agora fica aqui a referência de onde veio esta imagem: "SÍMBOLOS, ABREVIATURAS Y TÉRMINOS USADOS EN LAS CARTAS NÁUTICAS", do "SERVICIO HIDROGRÁFICO Y OCEANOGRÁFICO DE LA ARMADA DE CHILE". (link no fim)

Portanto, usar o desenho que identifica o depósito de água traçando um azimute da parte de cima do desenho é completamente errado (para não dizer ridículo). Deverá haver um ponto de referência geográfico associado a esse desenho, normalmente na base do desenho, e esse sim indica onde está localizado o objecto notável. É esse ponto que devem usar para traçar os azimutes.

Na imagem seguinte, reparem que todas os farolins de balizagem e boias têm um pequeno circulo branco na sua base. Podem reparar no pormenor aumentado no quadrado direito com dois faróis. Esse pequeno circulo branco é que define (2) a posição geográfica exacta da boia na carta. Tudo o que está para cima é só para (1) identificar que farolim/boia é.




Podemos reparar na imagem anterior que existe também um farol representado por uma estrela. Nesse caso o circulo está no interior da estrela. Os faróis, que não os de balizagem, são sempre representados por uma estrela com o circulo no meio.
Os faróis principais de costa são para ser visto de mais longe para uma primeira identificação da costa, por isso são mais altos (neste exemplo 34 metros) e mais potentes (neste caso alcança 20 milhas). Os farolins do sistema de balizagem já é para a abordagem a portos e canais; portanto basta terem alcances mais curtos (neste caso 4 e 6 milhas) e são normalmente mais pequenos (4, 7 e 12 metros).

Fontes de informação:

- www.shoa.cl/servicios/descargas/pdf/carta1_2008.pdf - "SÍMBOLOS, ABREVIATURAS Y TÉRMINOS USADOS EN LAS CARTAS NÁUTICAS", do "SERVICIO HIDROGRÁFICO Y OCEANOGRÁFICO DE LA ARMADA DE CHILE"

- http://websig.hidrografico.pt/www/content/documentacao/legislacao/livraria_simbolos.zip - Livraria de símbolos para a produção da cartografia hidrográfica, do nosso "Instituto Hidrográfico" da Marinha Portuguesa. NOTA: eu não cheguei a ver este conteúdo! Como estamos num país muito fino, teria que ter um Software todo XPTO, hiper-mega-fixe (AutoCAD) todo profissional que custa uma pipa de massa. Nem uns simples conversores :S

Boas aprendizagens,
Pedro Braga

sábado, 8 de outubro de 2011

Circulo Máximo


Os truques e mezinhas que, felizmente, os nossos professores nos fornecem, por vezes induzem ao erro por parte dos alunos menos "estudiosos" que só procuram forma simples e rápida de passar aos exames. Esquecendo-se logo de seguida de todos os ensinamentos que receberam durante a preparação.

Um bom exemplo de como se pode induzir conhecimentos errados a estes alunos é a de noção de "Circulo Máximo". Esta definição geométrica é usada na definição geográfica de alguns termos que se usa na náutica. A simplificação que se faz aqui é que o globo terrestre se aproxima a uma esfera (achatamento ~= 0,0033671 e excentricidade ~= 0,0819927).

A mezinha que se ensina nas aulas de patrão local é: Círculos Máximos são o equador e os meridianos e mais nada! Aqui tenta-se evitar que algum aluno diga que um paralelo é um circulo máximo.

O problema é que, quem nunca privou com geometria nem teve cadeiras como Geometria Descritiva, facilmente afirmará a pés juntos que Circulo Máximo é o equador e os meridianos! E nem lhe passará pela cabeça que, usando a mesma aproximação do globo terrestre com uma esfera, existam mais círculos máximos que não são o equador nem os meridianos!

Para quem ainda não percebeu ou não concorde com esta minha afirmação, deixo-lhes aqui um desafio. Como interpretam as seguintes definições que se podem encontrar nos manuais náuticos de navegação:

"a menor distância entre dois pontos na superfície da Terra (considerada esférica para os fins comuns da navegação) é o arco de círculo máximo que os une, ou seja, uma ortodromia."
> aqui a pergunta é: para se ver a menor distância entre dois pontos, eles têm sempre que estar no equador ou no mesmo meridiano? pensem lá bem...

"Círculos máximos, exceto o equador e os meridianos, não são representados por linhas retas (...)"
> esta é uma das limitações da projecção de Mercator. Será que o autor desta frase estava maluco e andava a ver outros círculos máximos que não o equador e os meridianos?...

Pois bem, um circulo máximo é a figura geométrica resultante da intersepção de um plano por uma esfera quando o centro da esfera é coincidente com um ponto do plano. (esta é a minha definição... acho que estará aceitável. Sugestões e correcções são bem vindas :) )
Nos manuais de náutica poderemos encontrar uma definição mais geográfica (se bem que circulo não é circunferência, mas...) :
"CÍRCULO MÁXIMO: é a linha que resulta da interseção com a superfície terrestre de um plano que contenha o CENTRO DA TERRA."

Alguns links onde poderão ver esta definição ilustrada e explicada:

http://es.wikipedia.org/wiki/Gran_Círculo - Definição de Circulo Máximo (Gran Círculo) na Wikipedia em Espanhol
http://www.mar.mil.br/dhn/bhmn/download/cap1.pdf - Manual da Marinha Brasileira


Boas aprendizagens,
Pedro Braga